Sete homens rejeitaram a filha aleijada do Coronel — ele a entregou ao escravo mais brutal.


Se essa lei vier, se eu ficar livre, a senhora acha que ia mudar alguma coisa entre nós? Mariana respirou fundo. Mudaria tudo porque não seríamos mais duas pessoas forçadas a estar juntas. Seríamos duas pessoas escolhendo estar juntas. E a senhora escolheria? O silêncio se estendeu. Então acho que sim. Acho que escolheria você. Ela ouviu a respiração dele mudar.
Ouviu algo que soava como soluço abafado e pela primeira vez ele a chamou apenas pelo nome. Boa noite, Mariana. Boa noite, Gabriel. A história ainda tem muito para revelar. Continue com a gente até o final. Junho trouxe a colheita. Gabriel trabalhava 16 horas por dia, voltando quando a noite já havia engolido o mundo. Uma noite, ele entrou cambaleando e mal conseguiu esconder uma queixa de dor ao sentar-se. O que aconteceu? Mariana exigiu.
Ele tentou mentir, mas ela já conhecia suas evasivas. Finalmente cedeu. Levei um coice de mula. Acho que quebrou uma costela. Rosa veio rapidamente trazendo pai Tomás, o velho curandeiro. O ancião examinou Gabriel com mãos experientes e seu veredo foi sombrio. Tá quebrado. Precisa descanso. Se continuar trabalhando, vai morrer. Mas Gabriel não podia parar.
O capatis havia ordenado que todos trabalhassem durante a colheita, sem exceções. Na manhã seguinte, ele saiu antes do amanhecer, como sempre. Quando voltou ao anoitecer, estava irreconhecível. Rosto cinza, cambaleando as bandagens que Rosa havia feito encharcadas de sangue. A costela quebrada havia perfurado algo interno. Mariana olhou para ele desabando contra a parede e algo dentro dela quebrou também.
Todas as contenções, todo medo, toda submissão, tudo se despedaçou. Rosa, me leve até a casa grande agora. A Mucama tentou argumentar, mas Mariana não aceitaria não como resposta. 20 minutos depois, ela invadia a biblioteca do pai sem ser anunciada, interrompendo sua noite tranquila de conhaque jornais. “O que você está fazendo aqui?”, o coronel perguntou genuinamente surpreso.
Vim pedir que deixe Gabriel descansar. Ele está morrendo, então vai morrer. Tenho outros 50 escravos. E foi naquele momento que Mariana finalmente encontrou sua voz. Não a voz submissa e resignada que ela usará a vida inteira, mas uma voz forte, alimentada por meses de amor crescente e raiva acumulada. Ele não é apenas mais um escravo, é meu marido.
E ele é melhor homem que o Senhor jamais foi. O silêncio foi absoluto. Ele cuida de mim, me respeita, me trata como pessoa. As palavras saíam como torrente agora imparáveis. A mãe morreu porque o senhor não quis gastar dinheiro com médico. Eu nasci assim porque ela não teve cuidados e o Senhor me culpou a vida inteira por algo que foi culpa sua. O coronel se levantou.
Ódio genuíno em seus olhos. Saia da minha casa. Depois que o Senhor prometer que Gabriel pode descansar até se curar. Não vou prometer nada. Mariana se inclinou para a frente na cadeira, olhos fixos nos dele. Então amanhã eu vou até a cidade contar para todos como o grande coronel Ferreira da Silva casou sua filha com escravo. Vou fazer essa história chegar até o Rio de Janeiro, se for preciso.
Era blef, mas funcionou. Ele tinha reputação a perder. Ela não tinha nada. Duas semanas ele cedeu: “Veneno em cada palavra, depois volta ao trabalho, curado ou não.” Mariana saiu vitoriosa pela primeira vez na vida e quando voltou para a casa do feitor e viu Gabriel inconsciente na cama, segurou a mão dele e sussurrou: “Você vai sobreviver, porque eu não vou deixar você ir embora.” As duas semanas seguintes, testaram Mariana de formas que ela nunca imaginou.
Gabriel flutuava entre consciência e delírio, a febre subindo e descendo como marés violentas. Pai Tomás vinha três vezes ao dia com chás amargos e cataplasmas de ervas. Mariana não saiu do lado dele, dormia sentada, limpava seu suor, forçava água entre seus lábios quando ele conseguia engolir.
Na terceira noite, a febre subiu tanto que ele começou a delirar, falando de sua mãe vendida quando ele tinha 8 anos, de um irmão morto de varíula, de chicotes e fome e medo, e falava de Mariana. Dizia seu nome como reza, como se ela fosse a única coisa que o prendia à vida. Na manhã do quinto dia, a febre quebrou.
Gabriel abriu os olhos e a viu ali, exausta, mas presente. Você ficou aqui? Sua voz era apenas um sussurro. Onde mais eu estaria? Um fantasma de sorriso tocou seus lábios. Achei que tinha morrido e você era um anjo. A recuperação foi lenta e dolorosa. Gabriel demorou dias para conseguir sentar-se, mas dias ainda para dar pequenos passos apoiado nas paredes.
E pela primeira vez os papéis se inverteram. Mariana cuidava dele com a mesma dedicação que ele sempre demonstrara por ela. Uma tarde, enquanto trocava suas bandagens, Gabriel segurou a mão dela. Por que você fez aquilo? Enfrentou o seu pai, arriscou tudo por mim. Mariana olhou para as mãos deles entrelaçadas. Por que você importa para mim? Mas por eu sou apenas.
Não diga que é apenas um escravo. Seus olhos encontraram os dele. Você é Gabriel, o homem que busca laranjas no escuro, que dá seu único cobertor quando está frio, que me trata com dignidade quando o mundo me trata como fardo. Você é a melhor pessoa que eu já conheci. O silêncio se estendeu. Então, simples e direto, eu te amo. As palavras caíram entre eles como pedras preciosas.
Mariana sentiu lágrimas queimarem. Ninguém nunca havia dito aquilo para ela. Eu sei que não devia. Gabriel continuou. Mas quando achei que ia morrer, a única coisa que eu pensava era que nunca tinha te dito. Não é errado. As lágrimas corriam livremente. Agora eu também te amo. Gabriel a puxou para perto e pela primeira vez seus lábios se encontraram.
O beijo foi suave, hesitante, mas carregava toda a ternura que nenhum dos dois havia conhecido antes. Quando se separaram, ele descansou a testa na dela. Eu nunca achei que alguém pudesse me amar. Você sempre mereceu ser amado. Esta história está chegando ao final. Fique até o último momento para ver como tudo se resolve. 13 de maio de 1888.
Três dias depois, a notícia chegou à fazenda como explosão. A princesa Isabel havia assinado a lei Áurea. Os escravos estavam livres. Mariana estava na varanda quando viu Gabriel voltando dos campos com os outros. 50 homens e mulheres caminhando devagar, como se não acreditassem no que ouviam.
Pararam diante da casa grande, onde o coronel os esperava. Vocês ouviram? Ele disse sem emoção. Estão livres. Podem ir. Mas ir para onde? Pai Tomás fez a pergunta que todos pensavam: “E para onde a gente vai, patrão?” O coronel considerou fazendo cálculos frios. Podem ficar 3000 réis por mês, comida e moradia incluídas. Era uma miséria, mas era mais que nada.
Um por um, os ex-escravos assentiram e voltaram ao trabalho, porque liberdade sem escolhas reais não era verdadeiramente liberdade. Mas Gabriel não voltou. Ele caminhou direto para a casa do feitor. Quando entrou e viu Mariane esperando, seus olhos brilhavam com algo que ela nunca havia visto. Esperança verdadeira. Ele se ajoelhou diante dela. Mariana Clara Ferreira da Silva, você aceita se casar comigo de verdade dessa vez? Não porque seu pai ordenou, mas porque eu te amo e quero passar minha vida com você.
Sim, mil vezes. Sim. Uma semana depois, casaram-se de novo numa pequena igreja da cidade. Padre Antônio recusou-se a oficializar, mas encontraram um jovem padre de São Paulo que ainda acreditava na igualdade perante Deus. Rosa estava lá, pai Tomás, alguns trabalhadores. Não havia luxo, mas havia amor. E quando disseram aceito, eram palavras escolhidas livremente.
O coronel não compareceu, mas três dias depois mandou chamá-los. Quando Mariana e Gabriel entraram na biblioteca, foi de mãos dadas. O coronel empurrou o envelope pela mesa. Escritura da casa do feitor e cinco alqueires de terra. Está em seu nome. Considere isso sua herança. É tudo que receberá de mim. Mariana pegou o envelope e olhou para o pai.
Não sentiu amor nem ódio, apenas vazio. Está bem, ela disse calmamente. Vou viver com ela. Feliz. saíram dali de mãos dadas, deixando para trás um homem velho e amargurado que escolher orgulho em vez de amor. Gabriel e Mariana transformaram a pequena casa num lar verdadeiro. Ele plantou milho, feijão, mandioca. Ela aprendeu a cozinhar, a costurar.
O dinheiro era escasso, o preconceito constante, mas eram livres e eram amados. Dois anos depois, Mariana segurava nos braços uma menina de pele cor de café com leite e olhos grandes como os do pai. Gabriel olhava para a filha com assombro, como se não acreditasse que algo tão perfeito pudesse existir.
“Como vamos chamar ela?” “Esperança,” Gabriel disse sem hesitar, porque é isso que ela é, nossa esperança de que o mundo pode ser diferente. Enquanto embalava a filha, Mariana pensou em tudo que haviam passado. Rejeição, dor, quase morte, preconceito, mas também amor, escolha, dignidade, liberdade conquistada.
Não era conto de fadas, era melhor, era real, era deles. Anos depois, quando o coronel já estava enterrado e esperança crescida, as pessoas ainda contavam a história. Alguns como escândalo, outros como romance impossível. Mas a verdade era mais simples. Era sobre duas pessoas rejeitadas pelo mundo, aprendendo a se aceitar. Sobre dignidade mantida contra todas as probabilidades.
Sobre escolher amor quando o ódio seria mais fácil. era sobre humanidade, triunfando sobre crueldade. E décadas depois, seus nomes ainda eram lembrados, não como a leiada e o escravo, mas como Mariana e Gabriel, duas pessoas que provaram que o amor não conhece barreiras, porque no fim o que nos torna humanos não é o que temos, é como tratamos uns aos outros. É a bondade oferecida quando nada de bondade foi recebido.
É o amor dado quando o mundo diz que não merecemos amar. Essa foi a lição que Mariana e Gabriel ensinaram. E essa lição permaneceu viva muito depois que voltaram ao pó.

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